Honestidade nas empresas não pode ser tratada como uma competência, mas sim como algo NORMAL ao comportamento de qualquer pessoa.
Ninguém pode dizer que a palavra honestidade está em desuso, afinal logo que se desencadearam os escândalos políticos demonstrados especialmente pela Operação Lava Jato, as palavras “desonestidade” e “corrupto” vieram à tona. Além disso, em seguida foi visto, ouvido e lido muitas notícias sobre a escassez da honestidade no mundo político e na sociedade como um todo.
Bom, a gente sabe que isso não é de agora e que sofremos desse mal há muito tempo e, de certo modo, nos acostumamos com os desonestos, afinal já virou algo normal. Ou é comum que se fala?
Vou ser honesto com você, já errei muito isso e é preciso entender a diferença sobre comum e normal. Portanto já te adianto que é comum trocar as palavras normal e comum. Um trocadilho e tanto que vai fazer sentido, garanto.
Não trate algo comum como normal
COMUM é alguma coisa, situação que acontece com certa frequência, podendo ser certa ou errada.
Um exemplo disso: “É comum termos notícias de políticos desonestos em Brasília.”
Agora, jamais podemos concordar que isso seja normal, afinal a palavra NORMAL significa alguma coisa ou situação que segue uma regra, uma convenção ou lei que rege o que é certo.
O exemplo que gostaríamos: “Em Brasília é normal termos políticos honestos e que brigam pelos interesses da sociedade.”
E por que fiz questão de deixar claro o que significa cada uma dessas palavras, antes de entrarmos no nosso ponto central? Porque não podemos tratar honestidade como algo COMUM nas empresas ou na sociedade, e sim como algo NORMAL. Mas não se pode idolatrar uma pessoa por ela ser honesta, isso é requisito básico.
A honestidade NÃO garante um emprego
Não vai ou, pelo menos não deveria, por si só garantir uma pessoa em um emprego. Imagina a seguinte situação:
Você é um gestor, o líder de uma equipe. Possui uma equipe de 40 colaboradores aos quais precisa apoiar e direcionar diariamente. Um colaborador seu, o Eduardo, já trabalha há 3 anos com você e é um rapaz honesto e gentil, mas que não é muito “ligado” aos prazos e organização.
Até aí tudo bem, afinal honestidade é algo escasso, e você trata isso como algo normal. Mas é assim que é, o mundo está cheio de desonestos, então isso vira uma qualidade do Eduardo. Além disso, na contratação isso foi o ponto alto para ele ser efetivado: a sua honestidade ao falar que tinha sido demitido no último emprego por atraso na entrega de trabalhos.
O Eduardo, pela sua honestidade, foi colocado como auxiliar de conferência e toda equipe depende dele, afinal ele é responsável pela entrada de notas fiscais. Ele não é muito ágil e é um pouco atrapalhado. Ou seja, não consegue efetuar todo seu trabalho diário e normalmente os caminhões ficam parados, mercadorias travadas e, consequentemente, a loja desabastecida.
Os demais colaboradores já falaram com você, pediram uma solução, mas você não tem o que fazer porque o Eduardo pode até não ser competente, mas é honesto.
Honestidade não é competência
Seguindo o exemplo, Eduardo não tem competência para estar onde está, já foi treinado várias vezes e mesmo assim não melhora. Além disso chega muitas vezes atrasado e com sono no trabalho e não consegue colocar seu trabalho em dia, provavelmente pela falta de foco. Uma coisa COMUM que para você já é NORMAL.
E o pior é que a equipe não aguenta mais ter que “pagar o preço” de constantemente precisar apagar incêndios causados pela falta de responsabilidade do Eduardo. Inclusive eles já falaram com ele, mas o comprometimento que teve com todos durou apenas 24 horas. Depois tudo voltou ao NORMAL, segundo o que você, que é o gestor da equipe, acredita.
A pressão aumentou e algumas pessoas da equipe que trabalham com você há anos – bem mais que o Eduardo – inclusive, dizem que vão desistir e procurar outro emprego. Mas você endurece, chama todos e diz:
“O Eduardo pode até não ter todas as competências que deveria ter, mas é honesto e muito gentil. Vamos entender isso e continuar o trabalho.”
O ato suicida acontece
Pronto, um ato suicida acabou de acontecer. Como resultado pode perder uma equipe competente por um honesto e gentil incompetente. Uma situação cada vez mais comum nas empresas e na sociedade, mas não podemos fechar os olhos e achar isso NORMAL.
Gente, honestidade é algo essencial e não podemos tratar como algo sobrenatural, pelo amor de Deus. Mas essa história, que acabei de narrar, te colocando na pele no gestor, não é mentira porque eu fiz parte dessa equipe de 40 colaboradores. Sofri com o tal de Eduardo – o nome era outro. Felizmente o gestor caiu na realidade e depois desligou o colaborador, não teve jeito.
Mas como treinador, ainda vejo “protecionismo” acontecer em empresas. Portanto, é importante entender que pessoas sem a mínima condição de trabalhar em algumas áreas, estragando equipes fantásticas e com um potencial excelente, precisam ser treinadas ou demitidas.
Avalie as competências
Não podemos usar a honestidade como o único fator imprescindível para contratar. Precisamos avaliar se as competências e o perfil da pessoa combinam com a vaga. Também deve-se desenvolver a pessoa e reavaliá-la sempre pelos resultados que o colaborador/líder entrega. E não pela gentileza que ele tem.
Como sempre escutei em casa, dos meus pais:
“O certo é o certo, e o errado é errado mesmo que todos digam o contrário, é isso que vale na vida, guri.”
A honestidade não pode e nem deve segurar ninguém no emprego ou cargo que ocupa. Acima de tudo o que deve segurar é a competência que a pessoa adquiriu e o resultado que ela entrega com esse conhecimento que tem.
Posso te garantir que é mais comum do que você pensa, existirem muitas pessoas encobrindo a própria incompetência, mostrando serem as pessoas mais honestas do mundo. Mas abra os olhos e construa uma cultura empresarial e social de pessoas que sabem a diferença entre o COMUM e o NORMAL.
Seja honesto com você e com as pessoas sempre, mas entenda que isso não pode ser tratado como uma competência, e sim como parte essencial do caráter de qualquer pessoa.
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